sábado, 27 de julho de 2013

There's nothing to tell!...

As palavras cruzam o espaço entre meus pensamentos em milésimos de segundos. São jatos de fel espalhados pelas paredes de uma mente ardorosamente utópica, doce mas ainda ressequida por sofrimentos antigos. A dor é iminente, toma forma e sabores distintos que teimam em derreter em minha língua tal como ouro no fogo. Incerteza, incapacidade de agir, de ser, de continuar vivendo. Escrever consigo. E é o que preciso fazer, para não enlouquecer.

Por que esse líquido azul chamado "ESPERANÇA" teima em ficar brilhando no fundo de minha garganta? Tentei engolir junto com a fé e a crença, mas agarrou-se de tal forma criando uma ferida, incurável, sufocando-me... novamente. Esfrego impacientemente com a escova mas a língua continua manchada. Vou acabar me rendendo a esse brilho de onde vejo emanar o pouco de força que ainda me faz prosseguir. Escreverei. Não com o intuito de que leiam, mas para que, no futuro, saibam exatamente como sinto-me AGORA.
"Já não sentia mais as pernas, pareciam estar penduradas num corpo inerte, preso pela cintura ao tampo de madeira do bar. Seu rosto afogueado sentia os olhos arregalados que queimavam pelo bafo inerente do álcool ingerido a noite toda. Sabia que não aguentaria por muito tempo, logo perderia os sentidos: já não controlava a fala, a razão e muito menos a bebida que ingeria.
Tudo tinha um motivo, mas já não lembrava a causa que o levara àquela bodega. Bebia há horas em companhia de pessoas que nunca vira antes e que tornaram-se seus mais novos "velhos camaradas". Alguns já haviam se despedido, outros dormiam encovados nas cadeiras rotas e disformes do salão e outro jazia estático perto da porta do banheiro.
Sabia que se tomasse mais uma dose daquele uísque barato e de textura suspeita seria seu fim. Uma saliva rançosa escorria do lado esquerdo de seus lábios, fazendo com que o rosto do barman se contraísse de nojo. O empregado lembrou que o dono do bar estava à espreita na cozinha. Fechando os olhos, limpou a saliva do cliente com um guardanapo de papel, ansiando que as sete da manhã e o fim de seu turno chegassem logo.
O cliente do balcão tinha a consciência de que precisava parar, não poderia virar aquele resto de bebida e achar que tudo ficaria bem. Num esforço inumano, lembrou-se com uma careta de que não pagara a última rodada. Empurrando o peito que estava apoiado no balcão, enfiou três dedos dentro do bolso da calça tentando pegar os últimos trocados e o que encontrou foi o toque frio e tiritante de sua aliança. Como num sonho, lembrou-se do porquê estava ali, do porque bebera tanto. Seus olhos congelaram-se. Olhando para o barman com dignidade, jogou as notas amarfanhadas com moedas que fugiram como ratos pelo balcão e disse: - Ligue para o hospital.
E tomou sua última dose de uísque."

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Medo

Era dolorido imaginar a que horas ele chegaria. Em seu íntimo ansiava ardorosamente que o relógio corresse ao contrário retardando assim seus momentos de angústia. Mordia as pontas dos dedos arrancando pequenos pedaços imaginando ser o plástico mole de um canudo de refrigerante. Estava na hora.
Sentiu-se flutuar em água salgada. Fechou os olhos e constatou que não era um sentimento pacífico. Notou estar presa e embebida em algo rançoso que impedia determinadas reações. Era o medo. Lentamente dirigiu-se ao quarto, refúgio sedutor em horários como aquele. Apressou o passo ao ouvir o barulho do portão.
Sentou em sua cama e esperou. A qualquer momento ouviria os primeiros protestos, os berros de insatisfação em estar vivo e da obrigação em dividir sua casa alugada com mais três mulheres e um filho.
Ela afundou uma almofada em seu rosto deitando-se de bruços. Incrivelmente não ouviu seu nome ser bradado pelo quarteirão. Se a memória não falhasse, tinha a plena certeza de que tinha feito suas obrigações de maneira satisfatória. Fugia de encontros ou esbarrões com ele. Queria distância da aura petrificada e do peito oco de seu desumano pai.
* * *
A menina sentou-se à mesa para a refeição fria e sem sabor que digeria diariamente sem nenhum entusiasmo. O pai tomava a cabeceira do lugar e como mandava o costume, ligou o rádio de pilhas tentando em vão encher a cozinha com música ao invés do ar rarefeito que sujava o ambiente. Infelizmente, a família já estava fadada a viver com aquele ressaibo pairando sobre suas vidas.
Arroz, feijão, bife. As crianças alimentavam-se em silêncio, sem alegria. Mecanicamente, levavam a colher à boca sonhando em provar um pouco de amor misturado ao dia a dia rotineiro. O silêncio era prestado em respeito ao humor canastrão do pai.
De repente, um pulso foi arremessado incontinenti em direção à mesa. A menina engasgou. O pai pedia salada. Onde estava os legumes que comprara na semana anterior? A mãe, um pouco mais corajosa respondeu em voz inaudível que acabaram. seria necessário ir ao mercado novamente. A menina fechou os olhos quando viu o pai levantar-se. Ouviu o abrir da geladeira e a voz gutural de seu pai perguntando sobre os tomates que brilhavam na gaveta de legumes. A menina não achava necessário abrir os olhos pra testemunhar o q acontecia. Sabia q seu pai abraçava o conteúdo da gaveta da geladeira e lançava com toda a força sobre o chão da cozinha. Podia distinguir o barulho dos tomates sendo esmagados e o som das batatas correndo para debaixo do fogão.
Após ter saciado sua fúria sob o olhar baixo e temeroso de seus filhos e mulher, o pai sentou-se na mesa esperando finalmente poder terminar seu almoço. Ao abrir os olhos, a menina contemplou com terror o chão da cozinha de concreto encerado em vermelho. Parecia que alguém havia sido esquartejado bem ali à sua frente. Era como se pedaços de um corpo estivessem ali esperando ser retirados. Não conseguia mover-se. A sensação de estar flutuando sobre água salgada voltara.
Assim como a paz, a fome fugira e ninguém mais conseguia engolir sequer um grão de arroz, a despeito do pai. Ele comia com a tranquilidade de um condenado que fazia sua última refeição antes de sua sumária execução.
A respiração rápida e nervosa dos presentes era encoberta pela música orquestrada que teimava em soar naquele ambiente tomado pelo terror. A menina já conseguira abrir os dedos crispados pela tensão de momentos atrás. E sem esperar, a música foi interrompida e a seguinte mensagem foi noticiada:
-É com imenso pesar que informamos o falecimento do ator comediante Zacarias do grupo Os Trapalhões...
A menina deixara escapar um grito. Atrevera-se a tanto. A surpresa tinha sido tão grande que ela não conseguira se conter. Ainda olhando para o rádio sujo de pedaços esmagados de tomate, sentiu uma bofetada em seu rosto dada por um chinelo que voara em sua direção. Tonta e com a mãe esquerda calçando a ferida, ouviu-o dizer: "Isso é pra vc aprender a não gritar mais na mesa."
Pela primeira vez, a menina sentiu a força do ódio invadir seu corpo ainda em mutação. Era revigorante. Vingança... Doce palavra.

sábado, 15 de agosto de 2009

Estava indo descansar um pouco. Sim, a mamãe não dorme bem há tempos, mesmo antes de vc nascer. Vc fazia super raves na minha barriga, de tanto que se mexia. Eu simplesmente ADORAVA, era pacificador para o meu espírito saber que vc estava bem. Minha adrenalina ia a mil por saber que vc crescia dentro de mim. Eu estava suuuuper ansiosa, esperando que a montagem de seus ossinhos e órgãos fosse bem administrada por maõs hábeis. E deu tudo certo! Papai do Céu fez um trabalho mais do que especial em vc, meu amor....
Hoje te considero meu milagre. A minha salvação. O meu remédio. Não tinha paz antes de vc chegar, e agora vc mudou a minha vida.
Filho, não me importo em ficar dias acordada sem sequer conseguir fechar os olhos. Não me importo em ficar com vc horas a fio no colo, te ninando e esperando que a dorzinha da injeção da vacina diminua um pouco. Não me importo de entrar em desespero quando te vejo chorar de dor e me sentir inválida como pessoa e como mãe por não poder te acalmar. Queria ter poderes mágicos para que com minhas grossas e grandes mãos pudesse retirar sua dor com o menor movimento de meus dedos.
Quando você chegou, pequenino e indefeso, tão molinho e vermelho, o instinto maternal aflorou em mim. Parecia que eu sempre soube como ser mãe. Mas, tudo foi por água abaixo quando vc pegou sua primeira gripinha e quando eu fui te dar banho sozinha. Meu Deus, o que eu estava fazendo? Tinha medo de te machucar e te perder, meu Filho....
Mas, hoje olhando pra vc crescendo em beleza e sabedoria, chego a me emocionar. Vejo a vida se descortinar diante de seus olhinhos verdes azulados e simplesmente meu coração explode em confetes multicoloridos de tanto amor. Vejo vc crescendo em grande escala, engordando suas deliciosas bochechas, entrando no seu primeiro macacão, tão grande há duas semanas, e que agora fica perfeito em vc.
Vejo suas unhas crescendo e me deixando em polvorosa, pq, vc sabe, Mamãe não enxerga e não pode cortar.
Aliás, esse nunca foi um grande problema, Filho. A Vovó estava desesperada antes de vc nascer e me perguntava (quando eu permitia) de que forma eu cuidaria de vc, sendo que não enxergo nada. Vc chegou, meu sonho realizado, e ficamos muito bem, obrigado. Tirando certos percalços, a vida é boa e plena ao seu lado.
A paciência reina em meu ser, Felipe. Seu rosto me tranquiliza, seu cheiro amansa meu coração e me dá a certeza de que dias melhores virão. Sim! Sua infância, sua adolescência e o prazer que sentirei em te entregar ao mundo e dizer ao meu bom Deus: “Fizemos um bom trabalho, meu Senhor!”

domingo, 21 de junho de 2009

Petoco:

Gostaria que ações exteriores não influenciassem meu estado de graça com seu nascimento. Ter-te ao meu lado é reconfortante, você tornou-se meu porto de chegada, onde sinto-me segura e aliviada por não ter que lidar com a mesquinhez e o egoísmo de terceiros.
Tenho que admitir que sinto-me intranquila com a atitude das pessoas, medo do que possam fazer a mim, pois indiretamente atingirão você.
Tenho terror em sequer imaginar coisas ruins acontecendo a você, meu amor. Em meus sonhos, imagino paz e serenidade em seu futuro, uma benção de menino, um adolescente precoce e inteligente, um homem cordato, cidadão consciente de seus deveres. Quero ser o canal pra que isso tudo aconteça a você, Felipe. Felipe. Meu filho.
Tenho como lei em minha mente a seguinte frase: "Aproveitar cada dia e momento com você". O tempo não pára, e você crescerá em beleza e intelecto, acompanharei isso de maneira integral sim, mas hoje, você é meu. Só meu. Às vezes te "empresto" pra outra pessoa, mas você pertence a mim. Absorvo cada instante com um apetite devorador, como se cada ocasião ficasse gravada a ferro e fogo em minha memória.
Você me preenche, meu filho. Me dá a paz e a felicidade que tanto procurei.
E isso me faz feliz.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

... E à minha mente não vem nada. Olho pro seu rosto de proporções minúsculas e não penso em nada, nem no quanto te amo, ou mesmo no amor que invade esse meu peito de forma grandiosa e que me deixa perplexa. Não, não consigo pensar em nada.
Não lembro da dor que sentia toda vez que imaginava que você não chegaria. Não lembro das horas angustiosas de apreensão que puseram sua vida em risco quando ainda eras uma doce esperança pra mim. Não lembro sequer das formas que usava veementemente pra lembrar-me que estavas aqui, junto a mim, sempre. E que estavas bem. E que chegarias a qualquer momento.
Quando olho pra você não lembro das doçuras dos sete meses antecessores a ti. Nem das travessuras a que fui submetida, ou mesmo as que te fiz passar.
Quando te enxergo, só o que vejo é tua boca pequena que suga com vigor a fonte de tua vida que emana de mim. Suas gengivas tão perfeitas, mais do que perfeitas, que sem um dentinho a feri-las abrem-se pra me chamar com um som nunca antes imaginado. Seus olhos grandes e anuviados, curiosos por tudo que te rodeia enchem-me de uma alegria indizível, e me fazem chorar. Só consigo ver sua bochecha vermelha e saborosa, capaz de me fazer ficar horas com os lábios pregados nela. Não, sem beijos. Só pra sentir a textura de sua pele de algodão.
Só consigo ver teu queixo pequeno, pontudinho, que permeia e dá forma ao teu rosto; caminho de encontro à felicidade.
Vejo a necessidade que tens em me ter por perto. Analiso o tempo, a temperatura, seu estado, suas carências, e te defendo assombrosamente com minha vida, minhas idéias, meus conceitos pra te ver feliz e em paz.
Tudo fica pra trás.
Quando te vejo, Felipe, só enxergo VOCÊ.
Eu te amo.
Pra sempre.